Há poucos estudos sistemáticos abrangendo diversos países no que tange a história do desenvolvimento da Farmácia como profissão no mundo. Parte considerável da literatura achada aborda o tema em países pontuais, principalmente na Inglaterra, pioneira no assunto. “A história da farmácia tem sido há muito tempo um campo negligenciado e pouco pesquisado dentro da extensa história da medicina, apesar de haver uma tradição de escrevê-la há mais de 200 anos” (ANDERSON, 2005, p. 10).
Provavelmente essa dificuldade deve-se ao fato da profissão farmácia tal qual concebemos de maneira geral atualmente ter surgido somente no século XIX. Antes disso, haviam diversos ofícios desempenhando atividades que associamos à profissão. Dessa maneira, é mais didático, ao menos até o fim do século XIX, descrever a história da farmácia a partir da história da produção e dispensação de medicamentos.
Seguindo a tendência do édito de Melfi, o édito de Palermo na Sicília estabeleceu que a medicina e a farmácia seriam profissões separadas que exigiam habilidades e responsabilidades específicas. Estabelecia também que físicos e apotecários não poderiam estabelecer relações comerciais, para evitar exploração do doente. A ideia de separar o tratamento e diagnóstico da preparação do medicamento se espalhou na Europa exceto na Grã-Bretanha, onde só ocorreu séculos depois.
Na Inglaterra medieval a farmácia era essencialmente uma atividade comercial, na qual a corporação dos especieiros (1184) tinha entre seus membros comerciantes de drogas. Com o desenvolvimento do comércio nos séculos seguintes grandes companhias se formaram e a dos merceeiros (1345) incluíam os comerciantes de drogas e especiarias. Não era somente nesses locais que drogas eram preparadas, isso ocorria também em hospitais, enfermarias primitivas e leprosários, por exemplo.
Em 1617 os apotecários se separaram da Companhia dos Merceeiros fundando a Sociedade dos Apotecários e ainda no século XVII desafiaram o monopólio da prática médica com os físicos. Em 1704 o senado inglês (House of Lords) garantiu aos apotecários o direito de exercer a medicina como o que chamaríamos hoje de médico generalista. Em 1815 o Ato dos Apotecários garantiu a eles o direito de licenciar e regulamentar médicos generalistas. Como continuavam produzindo e dispensando drogas, criou-se uma situação em que os farmacêuticos (druggists/chemists) estavam agindo como apotecários. Em resposta, tentou-se limitar as atividades dos farmacêuticos sob a supervisão dos apotecários. Os farmacêuticos se reuniram e conseguiram aprovar a criação da Sociedade Farmacêutica da Grã-Bretanha em 1841 com o objetivo de elevar a profissão através de educação, beneficiar o público e se protegerem dos ataques do parlamento.
Evolução da Farmácia na Inglaterra

O desenvolvimento da química nos séculos XIX e XX foi fundamental para que a farmácia passasse do empirismo para aplicação das ciências na produção de medicamentos. Nem mesmo as grandes guerras conseguiram frear o desenvolvimento da profissão, pelo contrário, em alguns países como EUA a guerra acabou acelerando o desenvolvimento da profissão. Depois de inúmeros percalços históricos, hoje a Farmácia é uma profissão não só de prestígio, mas também de fundamental importância para o funcionamento da sociedade.

REFERÊNCIAS:

ANDERSON, Stuart. Making Medicines: A Brief History of Pharmacy and Pharmaceuticals. Londres: Pharmaceutical Press, 2005. p. 3-75.

FLANNERY, Michael A. Building a retrospective collection in pharmacy: a brief history of the literature with some considerations for U.S. Alabama: Bull Med Library Association, v. 89, n. 2, p. 1-10, abr. 2001.